Denúncias de maus-tratos a animais em Minas Gerais cresceram 37% em 2020
janeiro 4, 2021 em 2:59
Polícia Civil registrou em média, por dia, seis ocorrências relativas a animais. Denúncias foram feitas sobretudo por vizinhos
O uivo melancólico do cão pastor suíço ecoa pelas ruas, entre janelas de edifícios e casas do Bairro Caiçara. Com as frequentes viagens dos donos, segundo a vizinhança, o sofrimento do animal deixado sozinho para trás se repete todo fim de semana, feriado e férias. Um choro que quem mora perto relata ser agravado pelo fato de o cachorro ser deixado sem higiene própria, alimentos e condições que consideram mínimas.
Essa situação tem revoltado alguns moradores do bairro da Região Noroeste de Belo Horizonte, sobretudo depois de vídeos serem divulgados pelas redes sociais. Um alerta aos proprietários de animais domésticos que têm viagens preparadas, mas não pensaram ainda no bem-estar de seus pets e cães de guarda: Minas Gerais é um dos poucos estados da federação que regulamentou por lei própria (Lei nº 22.231, de 20 de julho de 2016) que o abandono de animais pode ser considerado maus-tratos, punido com pena de reclusão de dois a cinco anos, além de multa e da proibição de guarda.
Essa situação tem revoltado alguns moradores do bairro da Região Noroeste de Belo Horizonte, sobretudo depois de vídeos serem divulgados pelas redes sociais. Um alerta aos proprietários de animais domésticos que têm viagens preparadas, mas não pensaram ainda no bem-estar de seus pets e cães de guarda: Minas Gerais é um dos poucos estados da federação que regulamentou por lei própria (Lei nº 22.231, de 20 de julho de 2016) que o abandono de animais pode ser considerado maus-tratos, punido com pena de reclusão de dois a cinco anos, além de multa e da proibição de guarda.
As autoridades têm recebido um volume crescente de denúncias de maus-tratos de proprietários, feitas por vizinhos como os que moram em residências próximas ao cão cinzento esquecido com frequência pelos donos.
De acordo com estatística da Polícia Civil de Minas Gerais, as ocorrências de maus-tratos, atendimentos a denúncias desse tipo de crime e rinhas de janeiro a 10 de novembro de 2020 já superam em 2% todo o quantitativo de registros de todo o ano de 2019.
A média é de seis fatos relativos a esses crimes por dia, contra cinco por dia, em 2019. Só as denúncias de maus-tratos cresceram 37% no período, passando de 364 para 499.
De acordo com estatística da Polícia Civil de Minas Gerais, as ocorrências de maus-tratos, atendimentos a denúncias desse tipo de crime e rinhas de janeiro a 10 de novembro de 2020 já superam em 2% todo o quantitativo de registros de todo o ano de 2019.
A média é de seis fatos relativos a esses crimes por dia, contra cinco por dia, em 2019. Só as denúncias de maus-tratos cresceram 37% no período, passando de 364 para 499.
O abandono dos animais tem consequências graves para a saúde deles, e com a pandemia do novo coronavírus a separação dos pets e de suas famílias amplia esse sofrimento.
“Estamos vivendo uma situação diferente com a pandemia. As pessoas estão passando mais tempo em casa com os animais e eles se adaptam a isso. Vira uma nova rotina para eles. Com as viagens de fim de ano e a separação dos animais de suas famílias, o sofrimento acaba sendo maior”, afirma o presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-MG) Bruno Divino Rocha.
De acordo com o médico veterinário, a solidão e o abandono trazem alterações físicas e não apenas comportamentais aos cães. “Não é um quadro simples. Vem com alterações hormonais. Aumenta a presença de cortisol no sangue, de hormônios do stress. Com isso, a imunidade sofre baixa, aparecem infecções urinárias e feridas de pele”, descreve Rocha.
Os reflexos na agressividade e maus comportamentos também costumam ocorrer após tempos de abandono. “Os animais podem assumir posturas depressivas ou destrutivas. Ter atitudes como comer móveis e objetos, ingerindo assim corpos estranhos. Podem se ferir e se mutilar, mordendo as patas e outras partes do corpo”, explica.
Choro e uivo são sinais
A situação do cão que se vê abandonado no Caiçara mobiliza e indigna os vizinhos. “Por mais de uma vez, a família resolveu se ausentar no final de semana e deixar o cão na área externa da casa. É angustiante ouvir o choro, misturado com uivos constantes. Ele (o cachorro) não descansa. É triste ver um animal sentindo a falta da família. Na última vez, parece que ficou também sem alimentação e água”, afirma uma vizinha, que pede para não se identificar para evitar conflitos.
Procurar um entendimento com os vizinhos que têm cães e os abandonam quando viajam é um dos primeiros passos para tentar preservar o bem-estar dos animais.
“O entendimento é preferível. Mas nem sempre isso é possível. Então, cabe a denúncia. Pode-se procurar a Polícia Militar, a Guarda Municipal e a delegacia de proteção à fauna da Polícia Civil. São vários os sinais que indicam o abandono e os maus-tratos, como o choro do animal e o arranhar das portas, por exemplo”, alerta o presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-MG) Bruno Divino Rocha.
A coordenadora do Movimento Mineiro pelos Direitos Animais, Adriana Araújo, afirma que geralmente quem abandona ou trata mal seus animais são as pessoas que os ganharam.
“Por isso, nosso trabalho de adoção é tão importante. Nós nos certificamos de que as pessoas querem mesmo ficar com os cães. Fazemos, também, visitas para averiguar as condições dos animais até dois anos depois da adoção, isso é uma exigência”, conta.
Segundo a coordenadora do movimento que milita pelos direitos dos animais, nesta época aumenta muito a quantidade de pessoas que abandonam seus pets em casa e saem para viajar.
“Chamamos isso de abandono por trás dos muros. É um grande desrespeito que ocorre no fim de ano, início de novo ano, durante as férias. Muitos são os animais que ficam sem comida, sem água, sem as necessidades básicas, desprovidos de lugar para dormir, abrigados do sol quente, do frio da noite e do vento. Muitos dormem debaixo de chuva. São deixados com as vasilhas de comida sujas, a ração se perde com o tempo e os animais acabam passando fome, ingerem comida contaminada até com urina de rato, podendo morrer de intoxicação ou de leptospirose”, descreve Adriana Araújo.
Doação de filhotes de pitbull
O empresário e ativista pela causa dos animais, Filipe Correa, de 39 anos, já chegou a resgatar 16 cães que se encontravam em situações de abandono nas ruas ou em residências.
“A última foi uma pitbull que a dona não tinha a menor condição de cuid ar e por isso precisei de fazer um convencimento. A cadela pariu uma ninhada de sete cãezinhos e consegui pessoas para adotá-los. Se você não tem condição de cuidar dos animais a doação é a melhor opção”, afirma.
“A última foi uma pitbull que a dona não tinha a menor condição de cuid ar e por isso precisei de fazer um convencimento. A cadela pariu uma ninhada de sete cãezinhos e consegui pessoas para adotá-los. Se você não tem condição de cuidar dos animais a doação é a melhor opção”, afirma.
Filipe, Adriana e o presidente do CRMV-MG, Bruno Divino Rocha, recomendam que as pessoas se programem e encontrem um hotel para hospedar seus animais caso precisem viajar e não os possam levar. Indicam também serviços como os de “dog sister”, que são pessoas contratadas para passar nas casas de pessoas que estão viajando para dar alimentação e até brincar com os bichos.
“Antes de se contratar um serviço de hotel é importante verificar se os estabelecimentos estão registrados, se têm apoio de clínicas caso ocorram emergências e se contam com um veterinário responsável”, alerta o presidente do CRMV-MG.